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Inteligência policial no combate ao crime organizado

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Publicado em: 25 de Jul de 2022

Autor: Dario Elias Nassif, delegado de Polícia e secretário-geral da ADPESP

O estado de São Paulo é berço de uma das maiores facções criminosas do país, que já expande sua atuação para além do tráfico de drogas, armas e até lavagem de dinheiro. Recentes investigações divulgadas pela Polícia Civil paulista revelam o envolvimento do bando com roubo de celulares – atraídos pelo lucro exponencial das transações via PIX –, e em esquemas com concessionárias de transporte municipal.

O trabalho de investigação requer investimento em infraestrutura, tecnologia e qualificação dos policiais. A partir do mapeamento da rede criminosa e identificação de como e onde agem, é possível realizar operações de busca, apreensão e prisões. E um dos pontos mais importantes que resulta deste esforço: o bloqueio de bens e recuperação de valores obtidos ilegalmente. O estrangulamento financeiro das organizações criminosas é ponto-chave para enfraquece-las.

O crescimento do crime organizado no estado de São Paulo resulta de uma política de segurança que há décadas vem negligenciando a Polícia Civil – responsável pelo trabalho investigativo e de inteligência. Outros fatores também contribuem diretamente, como a leniência com as atividades criminosas no sistema prisional, a ausência de planejamento estruturado e direcionado para o combate ao tráfico de drogas, bem como à lavagem de dinheiro, possibilitando que os criminosos alcancem a fase de “legalização” dos ativos.

Muito poderia ser feito no sentido de conter o avanço do crime organizado e, indo além, até mesmo sufoca-lo. A recomposição do déficit da Polícia Civil, cerca de 1/3 do efetivo, permitiria investigações mais céleres, evitando-se o acúmulo de inquéritos por equipes diminutas. A regulamentação da jornada de trabalho, extinguindo-se o sobreaviso ininterrupto de 30 dias consecutivos e a valorização salarial são fatores determinantes para que um policial exerça suas funções com excelência. Os planos de contingência na Polícia Civil, em que delegacias são fechadas a fim de otimizar o atendimento diante da falta de profissionais, precisa ser revisto e cessado.

O avanço do crime organizado e a crescente onda de criminalidade no estado de São Paulo mostram que a segurança pública caminha para o caos, sendo um grande desafio para o próximo governador. A solução passa pela vontade política em valorizar o policial civil, freando a evasão quase que diária de profissionais, concursos regulares para recomposição do efetivo, investimentos em infraestrutura e, principalmente, liberdade para a investigação, sem ingerências políticas.

A sociedade paulista clama pelo fortalecimento de suas polícias e ações contundentes contra o crime organizado, restabelecendo-se a sonhada paz social que o cidadão tanto merece.

Publicado em versão impressa pelo jornal Diário de SP, em 25 de julho de 2022, em versão online pelo jornal Cruzeiro do Sul, em 29 de julho, e em versão impressa pelo jornal Tribuna Liberal, em 30 de julho.

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